Vandressa dos Santos, formanda do curso de Licenciatura em Pedagogia com ênfase em Educação no Campo, é a primeira estudante surda a se graduar no Campus Abelardo Luz do IFC. A discente defendeu com sucesso seu Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado “A inclusão do surdo no Ensino Superior: trajetória, desafios e contribuições”, no último dia 12 de dezembro.
“No artigo, Vandressa aponta o descompasso entre os documentos normativos que asseguram os direitos das pessoas surdas e as práticas inclusivas adotadas nas instituições de ensino superior”, explica o orientador do trabalho, professor Samuel Giovani Ferreira”. “Por meio de seu relato de vida e trajetória escolar, Vandressa expõe as barreiras enfrentadas pela pessoa surda, desde as dificuldades de comunicação até os desafios nas
práticas institucionais e pedagógicas em sala de aula”.
“Mais do que um relato pessoal, o estudo representa uma contribuição significativa para reflexões e ações institucionais voltadas à inclusão”, prossegue o orientador. “Ao abordar questões centrais sobre acessibilidade e equidade, o trabalho fortalece o compromisso do IFC em promover um ambiente educacional mais inclusivo e acolhedor”.
O TCC contou com a co-orientação do tradutor e intérprete de Libras Edmilson José do Carmo.
Em entrevista realizada com o auxílio da tradutora intérprete de Libras do Campus Abelardo Luz, Cristiane Mariano da Silva, Vandressa conta que escolheu a Pedagogia por ser “a base da Educação”, e porque desejava desenvolver aprendizados para aplicar com os profissionais da área.
A formanda falou sobre a sua experiência em sala de aula, que foi de 2018 a 2024. “Fui a primeira surda a estudar sozinha no curso de Pedagogia, junto com os ouvintes. Fiquei com vergonha e medo no início, pois pra mim tudo é visual, e os professores ficavam só falando, falando. Eu tentei ensinar Libras para eles, mas só aprenderam “oi”, “bom dia”, “boa tarde” e “tchau”. Então, minha maior dificuldade foi me comunicar”, explica. “Tive quatro intérpretes aqui no campus: Cristiane Lissak, Ramon da Cunha, Katia Lourenço e a Cristiane Mariano, que me acompanha até hoje. Eles me ajudaram na acessibilidade, com os amigos, e me apoiaram ao fazer atividades. Também me ensinaram um pouco de Portuguès, que aprendi também com o material de Pedagogia”.
Vandressa comentou também sobre a importância de se estudar e discutir o tema da inclusão na academia. “É por isso que estou estudando um pouco mais o Português, junto com a Libras: para aprender com minha experiência, pois preciso me acostumar a conviver com as pessoas ouvintes e ensinar a minha comunicação. Também tem a dificuldade do intérprete de libras para nos apoiar; para explicar [aos docentes] que, ao passar um vídeo, por exemplo, ele precisa ser em libras ou ter pelo menos a legenda, pois o portugues é difícil para nós, surdos, entendermos”, diz Vandressa, que deseja atuar como professora de Libras em escolas ensino básico, “para que os alunos tenham uma educação bilíngue”.
Texto: Cecom/Reitoria/Thomás Müller
Fotos: Cristiane Mariano e arquivo pessoal
Agradecimentos especiais à intérprete de LIbras Cristiane Mariano,
cujo auxílio foi essencial para a realização desta matéria